sexta-feira, 20 de março de 2015

A vida de Buda - 4

" Para distrair o filho das suas preocupações, o rei decidiu enviá-lo em visita a uma aldeia agrícola vizinha. Esperava que Siddhartha se interessasse pelos métodos dos camponeses. Mas quando ali chegou, o delicado jovem viu os lavradores, sujos e mal vestidos, escorrendo suor e a trabalhar à torreira do Sol. Os bois estavam unidos por cangas que lhes roçavam o couro do cachaço. Os arados que puxavam rasgavam a terra e destruíam vermes e insectos. Para forçar os animais a trabalhar, os lavradores picavam-nos com varas de ferro que faziam com que dos flancos escorresse sangue. Saliva e vapor saíam-lhes da boca, forçados a arrastar os pesados arados durante longas distâncias. Densas nuvens de moscas impiedosas não cessavam de os atormentar.
O principe ficou dominado pela revolta. Quando soube que os trabalhadores eram escravos de seu pai, libertou-os ali mesmo no local, dizendo-lhes 'A partir de hoje, deixam de ser escravos. São livres para irem aonde quiserem e viverem em felicidade.' Também libertou os bois, dizendo-lhes; 'Partam. A partir de agora, sejam livres e comam a mais doce das ervas e bebam a mais pura das águas e gozem a brisa refrescante venha ela de onde vier.'
O bodhisittva estava com vinte e nove anos e a esposa, Yashodhara, encontrava-se grávida. Mas ele estava agora a pensar seriamente em abandonar o lar. Velhice, doença, morte e sofrimento que pareciam estar por todo o lado, constituiam restrições à existência que não podia aceitar como finais. De algum modo tinha de triunfar sobres estes inimigos de felicidade. No entanto, não o conseguiria se esgotasse a sua vida no palácio. O seu encontro com o mendigo pareceu mostrar-lhe o caminho que devia seguir para vencer este profundo vexame.
Uma noite, no aposento das mulheres, depois de uma sessão de folia, o princípe acordou e à luz bruxuleante da candeia viu as lindas mulheres deitadas à sua volta (...). Nessa mesma noite, Yashodhara teve um sonho em que Siddharta a abandonava. Ela acordou e contou-lhe o sonho. Depois, pediu: 'Senhor, para onde fores, leva-me contigo.' E sabendo que ia para um local situado para além do sofrimento e da morte, ele sossegou-a: 'Para onde eu for, podes ir também.'
Foi uma noite não muito antes do nascimento do filho, Rahula, que bodhisittva escolheu para abandonar para sempre o palácio e trilhar o caminho da simplicidade. (...) O bodhisittva acordou o cocheiro Chandaka, ordenou-lhe que selasse o cavalo favorito, Kanthaka, e o acompanhasse a pé.
Era lua cheia do mês de Verão de Ashadha quando o bodhisittva, montando em Kanthaka e tendo Chandaka a acompanhá-lo a pé, deixou Kapilavastu e dirigiu-se para sul pela floresta."

("Buda e os seus ensinamentos, editora difusão cultural, pag.24-26)

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