sexta-feira, 17 de abril de 2015

reflexão da monja budista portuguesa Tsering Paldron

Quando li isto pensei logo em mim há um ano. Bate tudo certo comigo este texto.  Partilho com vocês. 
sempre que especulamos sobre a duração de uma situação, criamos um sofrimento extra, totalmente desnecessário. Na verdade, a única coisa a gerir é este preciso instante pelo que a duração é somente um conceito sem realidade tangível e imediata. No entanto, é um conceito que nos assusta e angustia, muito mais do que o sofrimento real que estamos a experienciar, aqui e agora.
“Hoje o dia foi péssimo e amanhã vai ser igual. Depois de amanhã nada mudará e daqui a seis meses continuarei a sofrer. Estou condenado para o resto da minha vida.” Estes pensamentos não se referem a uma dor ou uma situação concreta que, de facto, esteja a ocorrer, neste preciso instante, mas são uma mera suposição sem qualquer realidade. Contudo, angustiam-nos profundamente.
Numa fase difícil da minha vida, aprendi que cada dia é um dia e é o único que temos de gerir. Tudo o resto é pura especulação. Assim, ao final de cada dia, em vez de pensar “Foi um dia horrível e amanhã será pior!”, dizia “Hoje consegui chegar ao fim do dia. Amanhã logo se vê”. Creio que esta é também a estratégia usada pelos toxicodependentes em fase de desintoxicação. Ao fim de cada dia, fazem uma retrospetiva: “Hoje não me droguei”. Não fazem promessas nem planos para o dia seguinte, não se sobrecarregam com obrigações a longo prazo. Cada dia é uma vitória ou uma derrota, mas é apenas um dia. Amanhã é um novo desafio.
Gerir a dor por um dia é possível, todavia pensar que temos de geri-la durante um mês ou um ano apavora-nos. Perdemos completamente as forças e ficamos tão desencorajados que somos incapazes de lidar com o instante presente. Pensar a longo prazo, em momentos difíceis, é esmagador e deprimente.
Guillaumet, o piloto amigo de Saint-Exupéry de quem já falei, explicou como fez para caminhar vários dias e noites no meio das neves dos Andes: “Desde o primeiro dia, a minha grande preocupação foi impedir-me de pensar. O sofrimento era demasiado intenso e a situação demasiado desesperada. Para conseguir ter a coragem necessária para caminhar não podia pensar nela. (…) O que me salvou foi dar um passo, depois outro e outro. Dar um passo de cada vez.”
Fonte -http://tseringpaldron.info/2015/04/16/cada-dia-e-um-dia/

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