Mais um exercício do livro "Agarra o Agora" de Gustavo Santos, este fala sobre o perdão.
Boas leituras e reflexões.
" É um profundo sentimento de paz que te permite, pela primeira vez em muitos meses ou anos, sentir a nitidez da vida, a essência das pessoas e a clareza das coisas. É a mais bela forma de te libertares do passado.
Já experimentaste esta sensação? Quem perdoaste? O que havia acontecido?
Ao invés, não perdoar é uma estrada para o abismo e nesse sentido veem-me sempre duas metáforas muito fortes à cabeça. A primeira passa por uma cruz. Cada pessoa que não perdoas é uma cruz a mais que carregas nas costas e se esse, o não- perdão, é uma escolha tua (...) o mais natural que te aconteça é um dia quereres olhar em frente e já conseguires fazê-lo, pois o peso é tão grande e as dores são tantas que não tens outra forma de caminhar senão de costas toldadas e olhar caído. Visualiza esta mensagem.
Consegues perceber que com essa postura não conseguirás encontrar o bom caminho? Não o vês, caminhas como um tolo de um lado para outro, aos repelões, cada vez mais cansado, e com mais vontade de desistir até que um dia escorregaras pelo abismo abaixo e ainda que o teu coração insista em bater e os pulmões a respirar, ainda te mexes mas já não sentes, ainda estás mas já não estás.
A segunda metáfora é uma orgia de dor. Já pensaste que dormes com todas as pessoas que não perdoas? Sim, elas estão mesmo ao teu lado na cama e, invariavelmente, as suas presenças são ainda mais fortes do que a presença da pessoa com quem verdadeiramente dormes. Quando acordas ao meio da noite qual é a primeira pessoa que te vem à cabeça? A que está ao teu lado, ou aquela que ainda não perdoaste? A que tu queres que um dia venha dormir ou aquela que te fez ou isse algo que te magoou? Um sentimento de amor ou de injustiça? De paz ou de ira? Consegues regressar ao sono imediatamente a seguir ou revoltas-te com as voltas que dás na cama? Quando tens alguém ou alguens por perdoar, esquece a ideia de que a noite serve para descansar.
(...) Ultimamente quantas cruzes carregas às costas ou, noutro sentido, com quem tens ido para a cama?
De (0-10) com que vontade andas de viver, sendo que (0) é nada e (10) é toda e mais alguma?
Quem é o verdadeiro responsável por isto?
Não perdoar é um estado, fazemo-lo sem darmos conta, mas tal só acontece porque, entre outras coisas, preferimos abstrair-nos do agora, porque entre a dor e o desconhecido é mais fácil ficar onde já estamos, lá atrás onde já nada pode acontecer e onde reside a maioria das pessoas. Digamos que a maior parte de nós vive na comunidade do sofrimento que fica na rua dos fundos e dá para um beco sem saida. É isto que queres para ti? Honestamente, e ainda que pouco ou nada tenhas feito para mudar para a rua da alegria, penso que não.
(...) Perdoar é uma experiência pessoal que nada tem a ver com o outro, ainda que muitas vezes tenhas de perdoa-lo; é um manifesto de amor próprio e não de generosidade, porque perdoas o outro para te sentires bem contigo, é libertar para voltar a sentir e nunca, nem por um segundo, para voltar a ter. O perdoar não implica reatar uma relação com alguém, voltar a partilhar o que quer que seja com essa pessoa ou falar de novo com ela. Perdoar significa um estado de paz sempre que nos lembramos dela, falarem dela ou, eventualmente, se trocarmos olhares com ela. Mas eu posso queres essa pessoa ao meu lado outra vez ou não? Claro que podes, só não quero que sintas essa pressão ou que interpretes mal o significado de perdoar, pois ele é livre e nada do que queiras é suposto ser. E se eu quiser esquecê-la, como faço? Depende da pessoa em causa, podes vir a esquecê-la ou um não, mas o que esquecerás seguramente é a dor que te foi infligida por ela, ou seja, se pertencer ao teu quotidiano não há como apagá-la porque a vês constantemente, mas podes olhá-la bem nos olhos e deixar de sentir o role de mágoas que já sentiste.
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