"Como perdoar?
(...) um dos principais requisitos para efetivarmos o perdão passa, como já escrevi, pela convicção de que, seja ao outro ou a nós mesmos, precisamos de perdoar por nós, pois essa é a única forma de garantirmos o que podemos ganhar: a liberdade. Muitas pessoas vivem transtornadas e inconscientemente à espera de que o outro se digne a assumir o seu erro e a pedir-lhes desculpa; ora esta atitude egóica e de superioridade é tão negligente que o mais certo é hipotecares o tempo que te falta de vida na sala de espera do improvável. Tu não controlas o outro. Tu nem sequer tens o poder de o mudar. E se achares o contrário nem em ti tens mão. Mereces, portanto, que a vida te passe ao lado e todos os pontapés que ainda irás levar. Ou gostas de sovas ou gostas da sensação de impotência. Sim, eu sei que o que não falta por aí é gente a pedir porrada para se continuar a vitimar, e outros tantos a armarem-se em coitadinhos para que o mimo dos inconscientes não lhes falte. (...)é que além da coitada a pessoa ainda se julga superior, pois acha que a sua verdade é mais verdade do que a verdade do outro, e isso faz dela uma espécie de coitada fina, de ingrata rica e de mártir da razão.
Revês-te nesta ideia?
Além de um profundo e errado sentimento de injustiça, o que é que tens ganho com isso?
(...)
1- Apenas representas a tua verdade.
O que tu pensas é tão valioso como aquilo que eu penso, o que tu achas correto tem o mesmo peso que aquilo que eu acho correto, o que tu argumentas merece o mesmo respeito que aquilo que tu argumentas, e a tua verdade pode ser uma mentira para mim ou vice-versa e, apesar disso, nenhuma delas é mais verdade do que a outra.
Ora bem, se tu apenas representas o que sentes, pensas e vês, ou seja, a tua própria e exclusiva verdade, que razão encontras tu para me culpar? Será que não consideras a minha opinião tão importante como a tua? Ou será que, se me culpas, te consideras dono da razão? Já pensaste nisto?
(...) Culpas-me porquê?Já olhaste para ti?
(...) Será que teres sempre um alvo não é o melhor álibi para justificar o facto de não conseguires coisas nenhuma? Dá-te jeito não perdoar?
(...) Quem se considera dona da razão é quem ainda julga, curioso não? O que podes fazer? Perdoar, acreditando que tão importante como a tua verdade, é a verdade do outro. Fá-lo por ti e depois, se porventura não te apetecer conviver mais com essa pessoa, segue o teu caminho, pois ultimamente não tens feito outra coisa senão ficar no mesmo sítio. Liberta-te, convicto de que nada adiantava continuar a atirar culpas para cima de ninguém, pois naquele momento cada um estava a dar o seu melhor.
2 - Não conheces a verdadeira história de quem culpa.
Sabes o que eu passei para me estares a culpa?
Conheces o meu passado? Viveste a minha infância?
Sabes quem sou eu? De onde venho?
Mete-te na tua vida. Achas legitimo culpares-me não tendo respostas para nada disto?
Nunca te passou pela cabeça que perante a mesma situação podemos agir de formas diferentes, tu baseado na tua educação e eu baseado na minha, ou na falta dela?
Vais julgar-me porque eu roubo, sabes se passo fome? Vais julgar-me por bater nas pessoas, sabes quantas sovas levei e vi os meus irmãos, a minha mãe ou os meus avós a levar? (...) A tua concepção do mundo pode ser totalmente distinta da minha: o que para ti é uma conduta normal, para mim pode ser totalmente distorcida e inaplicável na minha vida. É muito fácil culpar o outro quando nada sabemos acerca dele, mas a verdade é que essa atitude demonstra uma total incapacidade de avaliar as coisas como elas são, ou seja, de perceber que duas pessoas só são iguais no seu potencial humano, o que não quer dizer que o sejam na realidade de um ou outro momento. Para que consigamos libertar a culpa que anda sempre debaixo da nossa língua seria bom que perdoássemos as diferenças e promovêssemos o poder pessoal de cada um, pois não é possível elevar nenhum ser humano sem que primeiro sintamos a sua absolvição. Para a próxima vez, e há de ser ainda hoje ou amanhã, que culpares alguém, dedica alguns instantes a pensar nisto. Se respeitares as diferenças, ficarás sempre com a sensação de que vês mais longe, alcanças mais gente e encontra cada vez mais sentido para a tua vida. Eis o perdão.
3 - O sujeito passivo
Afinal de contas, fui eu que te fiz mal ou foste tu que, uma vez mais, permitiste que eu o fizesse? É que são coisas demasiado distintas para as confundires. No primeiro caso, e no limite, só me poderás culpar pela primeira vez em que isso acontece, pois podias não estar à espera e não és obrigado a adivinhar; no segundo caso é bom que vires as agulhas para ti, pois eu não tenho responsabilidade absolutamente nenhuma. Eu faço de ti o que permitires que eu faça. Se eu te agredir, enganar, mentir ou faltar-te ao respeito uma vez, só voltarei a fazê-lo se tu mo permitires e acredita que se me deixares não vou ficar por aqui. Bato-te, engano-te, minto-te e falto-te ao respeito as vezes que me apetecer. Passas a ser o meu saco de boxe, parece-te bem? Ainda me estás a culpar? (...) Queres ser bem tratado e respeitado, ama-te e dá-te ao respeito. Se tu não queres saber de ti, porque razão hei de eu querer? A tua passividade e o teu medo fazem com que escolhas viver na minha mão e eu esmago-te as vezes que quiser. Sabes porquê? Porque sei que voltas sempre. Aos teus olhos não vales de nada, mas ainda tens a coragem de me culpar a mim, a única pessoa que, ainda que da pior forma, te faz sentir alguma coisa.
Este texto foi retirado do livro "Agarra o Agora" de Gustavo Santos.
1- Apenas representas a tua verdade.
O que tu pensas é tão valioso como aquilo que eu penso, o que tu achas correto tem o mesmo peso que aquilo que eu acho correto, o que tu argumentas merece o mesmo respeito que aquilo que tu argumentas, e a tua verdade pode ser uma mentira para mim ou vice-versa e, apesar disso, nenhuma delas é mais verdade do que a outra.
Ora bem, se tu apenas representas o que sentes, pensas e vês, ou seja, a tua própria e exclusiva verdade, que razão encontras tu para me culpar? Será que não consideras a minha opinião tão importante como a tua? Ou será que, se me culpas, te consideras dono da razão? Já pensaste nisto?
(...) Culpas-me porquê?Já olhaste para ti?
(...) Será que teres sempre um alvo não é o melhor álibi para justificar o facto de não conseguires coisas nenhuma? Dá-te jeito não perdoar?
(...) Quem se considera dona da razão é quem ainda julga, curioso não? O que podes fazer? Perdoar, acreditando que tão importante como a tua verdade, é a verdade do outro. Fá-lo por ti e depois, se porventura não te apetecer conviver mais com essa pessoa, segue o teu caminho, pois ultimamente não tens feito outra coisa senão ficar no mesmo sítio. Liberta-te, convicto de que nada adiantava continuar a atirar culpas para cima de ninguém, pois naquele momento cada um estava a dar o seu melhor.
2 - Não conheces a verdadeira história de quem culpa.
Sabes o que eu passei para me estares a culpa?
Conheces o meu passado? Viveste a minha infância?
Sabes quem sou eu? De onde venho?
Mete-te na tua vida. Achas legitimo culpares-me não tendo respostas para nada disto?
Nunca te passou pela cabeça que perante a mesma situação podemos agir de formas diferentes, tu baseado na tua educação e eu baseado na minha, ou na falta dela?
Vais julgar-me porque eu roubo, sabes se passo fome? Vais julgar-me por bater nas pessoas, sabes quantas sovas levei e vi os meus irmãos, a minha mãe ou os meus avós a levar? (...) A tua concepção do mundo pode ser totalmente distinta da minha: o que para ti é uma conduta normal, para mim pode ser totalmente distorcida e inaplicável na minha vida. É muito fácil culpar o outro quando nada sabemos acerca dele, mas a verdade é que essa atitude demonstra uma total incapacidade de avaliar as coisas como elas são, ou seja, de perceber que duas pessoas só são iguais no seu potencial humano, o que não quer dizer que o sejam na realidade de um ou outro momento. Para que consigamos libertar a culpa que anda sempre debaixo da nossa língua seria bom que perdoássemos as diferenças e promovêssemos o poder pessoal de cada um, pois não é possível elevar nenhum ser humano sem que primeiro sintamos a sua absolvição. Para a próxima vez, e há de ser ainda hoje ou amanhã, que culpares alguém, dedica alguns instantes a pensar nisto. Se respeitares as diferenças, ficarás sempre com a sensação de que vês mais longe, alcanças mais gente e encontra cada vez mais sentido para a tua vida. Eis o perdão.
3 - O sujeito passivo
Afinal de contas, fui eu que te fiz mal ou foste tu que, uma vez mais, permitiste que eu o fizesse? É que são coisas demasiado distintas para as confundires. No primeiro caso, e no limite, só me poderás culpar pela primeira vez em que isso acontece, pois podias não estar à espera e não és obrigado a adivinhar; no segundo caso é bom que vires as agulhas para ti, pois eu não tenho responsabilidade absolutamente nenhuma. Eu faço de ti o que permitires que eu faça. Se eu te agredir, enganar, mentir ou faltar-te ao respeito uma vez, só voltarei a fazê-lo se tu mo permitires e acredita que se me deixares não vou ficar por aqui. Bato-te, engano-te, minto-te e falto-te ao respeito as vezes que me apetecer. Passas a ser o meu saco de boxe, parece-te bem? Ainda me estás a culpar? (...) Queres ser bem tratado e respeitado, ama-te e dá-te ao respeito. Se tu não queres saber de ti, porque razão hei de eu querer? A tua passividade e o teu medo fazem com que escolhas viver na minha mão e eu esmago-te as vezes que quiser. Sabes porquê? Porque sei que voltas sempre. Aos teus olhos não vales de nada, mas ainda tens a coragem de me culpar a mim, a única pessoa que, ainda que da pior forma, te faz sentir alguma coisa.
Então, de quem é a culpa afinal? Minha ou tua?
Se continuares a pensar que é minha, não te admires se continuares a sofrer, é uma escolha com a qual terás de lidar, se já percebeste que o padrão de comportamento do outro só se mantém porque tu ainda não mudaste, quer dizer que estás pronto para perdoar. Como? a autorresponsabilização é a autoestrada para o perdão. Porquê? Porque como nos tomamos como os verdadeiros responsáveis, estamos também a assumir que devemos ser nós a mudar e é sempre melhor esse caminho que o outro de ficar anos à espera, e sem garantias de nada, que o outro mude. A mudança trocar-te-á o estado de passivo para ativo e num abrir e fechar de olhos apercebes-te que nada tinha a ver comigo, sais da minha mão, tornas-te dono da tua própria vida e ao respirares de novo, perdoas-te pois o que sentes 'Agora' será sempre mais forte que o que deixaste de sentir no passado. Vives em vez de te culpares.
4 -Olha para o teu passado com os do passado e não com os olhos do presente
Queres libertar-te? Deixa-te de invenções e pára. Sim, pára para pensar. Agora preciso mesmo que penses. Vai os ficheiros que tens na tua memória e encontra lá um em que te julgues culpado. Tem de ser um daqueles fortes em que a culpa que vestes estás constantemente a limitar-te a experiência e a enlouquecer-te o silêncio.
Já está? Não avances sem o teres encontrado. Vou confiar em ti.
Permite então que a tua consciência te abandone neste segundo, larga tudo o que ela somou, e devolve-a ao momento onde tudo aconteceu. Sente esse teu passado com a tua consciência do passado. Já estás em ti, rodeado das mesmas pessoas e dentro desse momento? Agora, recorda-te de tudo o que foi feito, dito e, acima de tudo, de todas as coisas que sentias. Pergunto-te, poderias ter feito melhor do que aquilo que fizeste? Poderias ter sido mais do que aquilo que foste? Liberta-te da forma como vês as coisas agora e do que sabes que aconteceu depois. Fica lá, apenas lá, e responde-me às duas perguntas que te fiz. Tenho a certeza que, se tiveres a ver o teu passado com os olhos do passado, me responderás que 'não' a ambas. Terás, afinal, alguma culpa no cartório? Poderias ter adivinhado o que viria a acontecer? Conseguirias ter perdoado a pessoa naquele segundo? Quererias fazê-lo? Ninguém adivinha que uma pessoa com quem temos assuntos por resolver ou que, pelas escolhas que fazemos na vida, amamos à distância possa desaparecer de um momento para outro, ficando coisas por dizer e abraços por dar.
(...) Precisamos de ser bons para nós, de aceitar que a nossa evolução tem etapas e que hoje, naturalmente, somos mais evoluídos que ontem. É aliás essa evolução que nos permite 'Agora' ter mais consciência e capacidade de aceitação, maior percepção de nós, dos outros e do mundo real. Se escolheres continuar a culpar-te, nada vislumbrarás hoje e toda a diferença que poderias marcar 'Agora' não acontecerá; e essa apatia de hoje será mais tarde somada a todas as anteriores e um dia já não consegues viver na tua pele, pois consideras-te a pior pessoa à face da terra. Tudo porque te culpas por um passado onde o que fizeste foi apenas ser e dar o melhor que sabias na altura. Perdoa-te não pelo que fizeste ou deixaste de fazer no passado, mas pelo tempo que ignoraste desde então.
5 - Culpado à força
Deparo-me com muitas pessoas que se consideram culpadas por situação que, bem lá no fundo, sabiam que afinal não o são, mas como sempre ouviram os seus educadores e posteriores relacionamentos a acusá-las de tudo e mais alguma coisa, passaram a aceitar que todo o mal do mundo se deve a elas própria. Pergunto, a vida não será já demasiado desafiante para andarem a brincar ao faz de conta? Se sentem que não são culpados por razões assumem a culpa como vossa? Habituaram-se a carregar cruzes, foi? (...) O que os outros nos disseram ou fizeram acreditar desde que nos lembramos de nós não pode continuar a ser o nosso lema de vida. Responsabiliza-te se sentires que foste responsável, pois isso aproximar-te-á da mudança, mas nunca te culpes pelo simples fato de já nos termos habituado a atirar-te a culpa para cima como quem atira uma bola a um cão. No teu íntimo moram todas as respostas, se queres saber se a culpa é mesmo tua, questiona-te. Ouve-te. Perdoa-te pelo adormecimento para que possas acordar dessa anestesia geral. Respeita-te. E depois, se for o caso e com uma certa elegância, manda os outros bugiar.
(...) sabes a que distância estás de perdoar? Longe ou perto? Frio ou quente? Nenhuma, basta quereres ser verdadeiramente livre."
Este texto foi retirado do livro "Agarra o Agora" de Gustavo Santos.
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